É preciso medir



Ouvi uma história de um casal que brigava em quase todos os dias, o homem além grosso, gostava de jogar na cara as bem feitorias como marido, como se não fosse o mínimo. A sua esposa até suportava sua forma truculenta, mas nada pior do que as palavras ditas por ele.

Uma das chaves que abrem o portão das emoções é a palavra. Afinal, quem é que não fica feliz quando o amante diz "Eu te amo" e quem é que não fica triste ao ouvir "Eu te odeio". O poder orquestral das palavras é muitas vezes mais forte do que as atitudes. É assim que grandes instituições fazem, dominam suas massas com discursos, é o velho jargão " Faz o que eu digo, não faz o eu faço" e acredite, funciona!

Um dos segredos fundamentais da culinária não é a arte de cozinhar e sim de medir, é a quantidade de ovos que da a tal liga, é na quantidade de açúcar que deixa o doce enjoativo ou não. O medir é a sabedoria da harmonia, quem não sabe medir corre o risco de amargar a vida.

O que não mede as palavras, fere. Ao não medir atrofia os sonhos, amargura o coração, rouba o constrangimento do silencio. Antes de falar, é preciso medir, não é a quantidade exacerbada ou a falta de palavras que constrói uma comunicação saudável.

A construção de emoções saudáveis vem por medir o que vai falar antes. Quem por acaso já não perdeu um relacionamento por dizer o que não devia, ou dizer no momento errado? Que nossas palavras sejam medidas sabiamente, e que o reflexo delas evidenciem o amor, carisma e sensibilidade.

Nas palavras, medidas e comedidas.


Gleidson César

Choro




É madrugada, para ser exato, as 3h, o despertar vem pelo choro, é ardente, gritante, relevante, viro de um lado para o outro, o choro não para, não da trégua, pausa. Chega ser irritante, logo cai a ficha, sou pai, tenho um bebe em casa, e bebes choram. Carol diz em um tom cansado "amor já fiz de tudo, ele não para de chorar".

Estranho, mas o choro é o discurso da alma, as palavras do desespero, o rugir da alegria. É memorável as lembranças de criança, a cada tombo de bicicleta um choro, lembro como se fosse ontem, cortei minha cabeça e eu chorava desesperadamente dizendo "ficarei louco", hahaha, acho que a loucura foi pouca, não ouso tanto como os loucos.

Os médicos, pela ordem de seus ofícios, da um tapa na criança, para que chore. É o choro da vida, do nascimento. No mesmo ambiente, a mãe deitada ouve o chorinho e chora, mas de alegria, de alivio, é o choro da conquista, da superação, da emoção, é o choro de mãe. Tempos depois, a mãe chora por ter que virar as costas quando deixa seu filho no primeiro dia de aula. Depois o choro é desgostoso, seu filho reprovou em mais um ano escolar, o tempo por sua vez costuma ser generoso, o próximo choro da mãe será pela entrega de seu filho no altar para sua nora, o meu Deus, meu bebezinho vai se casar!

O ciclo do choro é existencial, é necessário. O choro subsiste na emoção, não se chora por chorar, só por derramar lágrimas, quem assim chora é falso, vive de atuações, de encenações. Os que choram, experimentam a sensibilidade que a vida proporciona.

Tenho dó, dó de quem não chora!

Inclemente choro.


Gleidson César