Ela continua



Nem o grito
Nem o desespero
Nem a maior das tragédias

Nem o sorrir
Nem a euforia
Nem a maior das alegrias

Nada

Absolutamente nada, resistem à compreensão de que a vida continua.

Sim, Ela continua!

Robert Frost disse;
Em duas palavras posso resumir tudo que aprendi sobre a vida: Ela Continua.

Ela não para, não se dissolve, seja qual for a alegria ou desastre. Se o suicida soubesse disso, talvez estaria extinta esta prática, e não é por não querer morrer e sim por querer continuar, é uma prática de jornada, e acima de tudo, perseverança. 

Hoje dia 13, decidi continuar, não porque não quero morrer, mas sim, por saber;

Ela continua.

Gleidson César

É preciso medir



Ouvi uma história de um casal que brigava em quase todos os dias, o homem além grosso, gostava de jogar na cara as bem feitorias como marido, como se não fosse o mínimo. A sua esposa até suportava sua forma truculenta, mas nada pior do que as palavras ditas por ele.

Uma das chaves que abrem o portão das emoções é a palavra. Afinal, quem é que não fica feliz quando o amante diz "Eu te amo" e quem é que não fica triste ao ouvir "Eu te odeio". O poder orquestral das palavras é muitas vezes mais forte do que as atitudes. É assim que grandes instituições fazem, dominam suas massas com discursos, é o velho jargão " Faz o que eu digo, não faz o eu faço" e acredite, funciona!

Um dos segredos fundamentais da culinária não é a arte de cozinhar e sim de medir, é a quantidade de ovos que da a tal liga, é na quantidade de açúcar que deixa o doce enjoativo ou não. O medir é a sabedoria da harmonia, quem não sabe medir corre o risco de amargar a vida.

O que não mede as palavras, fere. Ao não medir atrofia os sonhos, amargura o coração, rouba o constrangimento do silencio. Antes de falar, é preciso medir, não é a quantidade exacerbada ou a falta de palavras que constrói uma comunicação saudável.

A construção de emoções saudáveis vem por medir o que vai falar antes. Quem por acaso já não perdeu um relacionamento por dizer o que não devia, ou dizer no momento errado? Que nossas palavras sejam medidas sabiamente, e que o reflexo delas evidenciem o amor, carisma e sensibilidade.

Nas palavras, medidas e comedidas.


Gleidson César

Choro




É madrugada, para ser exato, as 3h, o despertar vem pelo choro, é ardente, gritante, relevante, viro de um lado para o outro, o choro não para, não da trégua, pausa. Chega ser irritante, logo cai a ficha, sou pai, tenho um bebe em casa, e bebes choram. Carol diz em um tom cansado "amor já fiz de tudo, ele não para de chorar".

Estranho, mas o choro é o discurso da alma, as palavras do desespero, o rugir da alegria. É memorável as lembranças de criança, a cada tombo de bicicleta um choro, lembro como se fosse ontem, cortei minha cabeça e eu chorava desesperadamente dizendo "ficarei louco", hahaha, acho que a loucura foi pouca, não ouso tanto como os loucos.

Os médicos, pela ordem de seus ofícios, da um tapa na criança, para que chore. É o choro da vida, do nascimento. No mesmo ambiente, a mãe deitada ouve o chorinho e chora, mas de alegria, de alivio, é o choro da conquista, da superação, da emoção, é o choro de mãe. Tempos depois, a mãe chora por ter que virar as costas quando deixa seu filho no primeiro dia de aula. Depois o choro é desgostoso, seu filho reprovou em mais um ano escolar, o tempo por sua vez costuma ser generoso, o próximo choro da mãe será pela entrega de seu filho no altar para sua nora, o meu Deus, meu bebezinho vai se casar!

O ciclo do choro é existencial, é necessário. O choro subsiste na emoção, não se chora por chorar, só por derramar lágrimas, quem assim chora é falso, vive de atuações, de encenações. Os que choram, experimentam a sensibilidade que a vida proporciona.

Tenho dó, dó de quem não chora!

Inclemente choro.


Gleidson César

Sobre a vida e sobre saber viver



Na vida há muitos sabores,
Saber viver é experimentá-los.
Na vida há quem sonhe,
Saber viver é realizá-los.
Na vida tem tantas canções,
Saber viver é cantarolar.

A vida é carregada de amor,
Saber viver é amar.
A vida tem muitos cheiros,
Saber viver é lembrar de alguém com um único cheiro.
A vida tem seus contextos,
Saber viver é produzir os textos.

Na vida sentimos saudades,
Saber viver é matar a saudade.
Na vida todos acordamos,
Saber viver é ter motivo para acordar.
Na vida tudo é muito bom,
Saber viver tudo é muito melhor.

A vida é cheia de sorrisos,
Saber viver é sorrir.
A vida é prosa,
Saber viver é poesia.
A vida são os caminhos,
Saber viver os passos.

Na vida,
Há quem não viva.
Saber viver,
Há quem viva.

A vida é importante,
Saber viver é essencial, é prioridade, é urgente.

Em Zoe, naquEle que nos une,
Gleidson César.

O Acaso



O acaso é cheio de gracinha, em dias de sol ele consegue trazer chuva, é meio sem vergonha, na verdade ele é um vagabundo, não tem morada certa, muito menos horário, os seus dias preferidos estão por aí, pode ser hoje, mas também pode ser amanhã, as vezes nunca é, mas quando menos se espera aí vem ele.

Ocasiões podem ser construídas, quem nunca foi em um evento social só porque o paquera estaria lá também, mas o acaso foge das regras, sua voz é percebida pela novidade, ele não atrasa, muito menos se adianta, é feroz em chegar em sua hora, não na nossa mas da dele.

Assim é o amor, é fruto da distração, quando menos esperamos ele chega, de mansinho, sorrateiro é sentido pela quantidade explosiva de carinho, os carinhos, nos tiram o ar, nos deixam leves, e é na leveza da vida que sentimos o amor, que não bateu na porta, não mandou torpedo, não ligou avisando de sua chegada, ele chega, simples assim. Sem expectativa de espaço ele nos invade, sem ao menos saber se há dentro do nosso coração uma cama vazia, uma gaveta disponível, um tempo oportuno, a sua chegada é obra do acaso, ah o acaso, sem respeito algum abre o coração, escancara a alma e nos presenteia.

O amor permeia a fronteira da graça, sua eventualidade é gostosa, assim é o amor, fruto da graça, a graça do acaso, não conseguimos possuir, é ele quem nos possuí, da mesma forma que ele chega, pode também partir, só nos resta esperar, ansiosos pela sua chegada, Rubem Alves diz que o amor quando volta, com ele vem a alegria, é aí que sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro.

Concluo dizendo, se produz alegria é amor. Se chegou por acaso, é amor. Se veio sorrateiro, sem planejamento, sem telefonar, sem avisar que viria, saiba é o amor. Abrir a porta do seu coração não é opção nossa, é dele, é o amor que tem essa chave e não nós. Que essa chave não seja nossa, para que não aprisionemos, que nosso amor seja livre, que voe, aí saberemos que quando ele voltar, voltou porque é ao nosso lado que ele quer estar!

Que assim seja o seu amor, inesperado como a chuva de verão, irresistivelmente matreiro, que fuja das regras, que quebre as molduras, que seja sentido e não planejado, que seja único, autêntico, o melhor, que o acaso te visite, hoje, amanhã e todos os dias da sua vida!

Pela Graça, naquEle que nos une,
Gleidson César.

Cegos e Surdos

Razão tinha Woodrow Wyatt em dizer "Um homem se apaixona pelos olhos, uma mulher pelos ouvidos" chega a ser engraçado, mas quantos de nós não vimos aquele homem meia boca com uma mulher linda, eu sou um desses casos não tão raros nas relações humanas.

O fato é que o fascínio do homem está na estética, é o que ele vê que o seduz. É no encanto de ver que o mesmo acaba enredado. Diferente das mulheres, são estimuladas no galanteio, nos amontoados de palavras carregadas de emoções, é romântico escutar, os vórtices nascem sorrateiramente nas poesias.

Lembro de um casal conhecido de todos, a história é peculiar, os desejos eram outros, mas as estratégias as mesmas. Para um o fruto se tornou irresistível, era belo, porque não comer? Para outro, era a fala da serpente que a seduzia, Adão e Eva é o tipo mais clássico de exemplo para nos alertar.

É encantador avistar a donzela, e lá vem ela, maquiada, decotada, encorajada a fazer do homem seu alvo. Estupefato está o homem, que em instantes de mentiroso vira trovador e de femeeiro vira poeta. Entretanto onde há sedução há frestas da ilusão e manipulação. O cuidado do homem deve ser com os seus olhos, e o da mulher com seus ouvidos, é como no deserto, os olhos são rapidamente enganados pelas miragens, é como a carência, logo se aconchega em vozes falsas e plagiadas.

Concluo dizendo, temos cinco ou talvez seis sentidos, que tenhamos a graça de poder usa-los, afinal o homem em que ouvir poderá despertar o que os seus olhos não veem e as mulheres que enxergarem poderão por sua vez ouvir o que seus ouvidos não escutam.

Nada é como se parece ser




As amigas parabenizaram a jovem que estava magra, mal sabiam que a mesma estava em depressão.

O pai de família tirou dez dias de férias na praia, postou algumas fotos, logo os que não foram disseram, ele está rico, uma pena ninguém ter observado que o pai trabalhou o ano inteiro para proporcionar a sua família alguns dias de lazer.

A mãe engole o choro, se remói, mas não consegue se segurar em um apelo na igreja, lágrimas escorrem, os da comunidade logo dizem, a irmã está sentindo a presença de D’us, que nada, a irmã chorava de dor, de tristeza, seu filho, o seu único filho estava usando drogas.

É como um iceberg, 30% daquilo que vemos não anula, e não mostra os 70% de gelo abaixo da margem, o que parece ser não é o que fato somos. 

Vamos?

Vamos reinventar nosso sentimento,
Vamos redesenhar nosso sorriso,
Vamos reescrever nossa história,
Vamos nos orientar juntos,

Vamos desacelerar os passos,
Vamos nos aquecer no frio,
Vamos sentir a brisa lá fora,
Vamos ver o nascer do sol,

Vamos dividir o mesmo copo,
Vamos fazer um piquenique,
Vamos andar de bicicleta,
Vamos ao parque,

Vamos juntos sonhar,
Vamos acreditar,
Vamos realizar,
Vamos?

Saudades tem sabor?

Mãe costumava colocar no prato:
Fígado e muitas beterrabas,
confesso que aprendi a gostar de beterrabas, mas fígado.

Por debaixo do pé de amora,
Arranquei algumas e comi, logo me disseram:
Gostas de amora? De imediato surge á máxima, vou contar para seu pai que você namora.

Sim, namoro!

Meu namoro é intenso,
mas tem sabor de algodão doce,
suave, faz da vida menos amarga.

Amargo mesmo era experimentar as acerolas da casa da vovó.
Mas casa de vovó sempre tem pudim, tem pão caseiro,
Tem afeto.

Agora, nada mais afetuoso,
do que dividir a tubaína de saquinho com os amigos.

O suspiro que o pai tanto gosta,
foi à prova, que por mais que o tempo passa o sabor da saudade fica,

E como fica!

Incrível,
saudades tem sabor lúdico,
em alguns momentos chega a ser infantil,
tem sabor amargo para ensinar
sabor doce para não amargurar
mas tem sabor.


Sabor da vida
Sabor com vida
Sabor pela vida
Sabor que vive, vive em nós.

Ensine-me a sorrir

Anseio mudar, abrir mão da cara carrancuda, do olhar altivo e da seriedade no trato. Que a simplicidade do sorrir, me alcance, na verdade é isso que quero, aprender a sorrir. Sorrir pelas incertezas, sorrir pelas impossibilidades, sorrir pela possibilidade de fazer o outro sorrir também, sorrir para dar uma chance à alma, para compartilhar cura.

Quero aprender, nem que comece tímido, arredio, aquele sorrisinho de canto, mas já é um começo, fui alertado, sorrir faz bem, afinal que sorriso não conquista. Conquista canções em meio ao pranto, conquista reciprocas incríveis, amizades irrefutáveis e olhares carregados de amor.

Procuro encontrar com as crianças as melhores risadas, brincar nas gangorras da felicidade, sabendo que por mais que eu esteja embaixo ou em cima, estarei sorrindo. Aspiro ter o sorriso de um palhaço, que mesmo visitando pacientes em estado terminal conseguem transformar a angustia em esperança. Quero ter a garra dos artistas de semáforos que por mais que errem sua apresentação não deixam transmitir sua raiva, ao contrario mostram-se animados e sempre sorridentes.

Sou um aprendiz, um aluno da vida, e se tem algo que vida nos oferece é a oportunidade de sorrir, a cada hora, a cada dia, em todo tempo. Afinal já é comprovado que sorrir estimula o cérebro a liberar endorfina e serotonina, substâncias responsáveis pela sensação de prazer e felicidade.

Que o contentamento nos alcance, e que o sorrir seja para testemunhar o nosso aprendizado das coisas simples da vida. Vamos aprender a sorrir?