O acaso é cheio de gracinha, em dias de sol ele consegue trazer chuva, é meio sem vergonha, na verdade ele é um vagabundo, não tem morada certa, muito menos horário, os seus dias preferidos estão por aí, pode ser hoje, mas também pode ser amanhã, as vezes nunca é, mas quando menos se espera aí vem ele.
Ocasiões podem ser construídas, quem nunca foi em um
evento social só porque o paquera estaria lá também, mas o acaso foge das
regras, sua voz é percebida pela novidade, ele não atrasa, muito menos se
adianta, é feroz em chegar em sua hora, não na nossa mas da dele.
Assim é o amor, é fruto da distração, quando menos
esperamos ele chega, de mansinho, sorrateiro é sentido pela quantidade
explosiva de carinho, os carinhos, nos tiram o ar, nos deixam leves, e é na
leveza da vida que sentimos o amor, que não bateu na porta, não mandou torpedo,
não ligou avisando de sua chegada, ele chega, simples assim. Sem expectativa de
espaço ele nos invade, sem ao menos saber se há dentro do nosso coração uma
cama vazia, uma gaveta disponível, um tempo oportuno, a sua chegada é obra do
acaso, ah o acaso, sem respeito algum abre o coração, escancara a alma e nos
presenteia.
O amor permeia a fronteira da graça, sua eventualidade é
gostosa, assim é o amor, fruto da graça, a graça do acaso, não conseguimos possuir,
é ele quem nos possuí, da mesma forma que ele chega, pode também partir, só nos
resta esperar, ansiosos pela sua chegada, Rubem Alves diz que o amor quando
volta, com ele vem a alegria, é aí que sentimos então que valeu a pena suportar
a dor da ausência, pela alegria do reencontro.
Concluo dizendo, se produz alegria é amor. Se chegou por
acaso, é amor. Se veio sorrateiro, sem planejamento, sem telefonar, sem avisar
que viria, saiba é o amor. Abrir a porta do seu coração não é opção nossa, é
dele, é o amor que tem essa chave e não nós. Que essa chave não seja nossa,
para que não aprisionemos, que nosso amor seja livre, que voe, aí saberemos que
quando ele voltar, voltou porque é ao nosso lado que ele quer estar!
Que assim seja o seu amor, inesperado como a chuva de
verão, irresistivelmente matreiro, que fuja das regras, que quebre as molduras,
que seja sentido e não planejado, que seja único, autêntico, o melhor, que o
acaso te visite, hoje, amanhã e todos os dias da sua vida!
Pela Graça, naquEle que nos une,
Gleidson César.